quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Momentos do fogo

Os pés estão apontados para o calor, perguntando em voz baixinha se os posso por mais perto dele. As mãos perguntam o mesmo. Respondo-lhes que sim. Todo o meu corpo é agora quente. Os outros seres vivos existentes na sala fazem o mesmo e respondem ao seu corpo que sim, sempre muito baixinho. A visão é ainda melhor. As chamas são as coisas que fazem o quentinho, são esquisitas; formam-se a partir daquilo que lhes damos e vão-se embora quando aquilo que lhes damos já falta. Às vezes vêm com fúria e fazem calor demais, mas não deixamos de gostar delas por isso.
Se houver alguma resposta entre o não e o sim, é essa que te dou.
Se as minhas lágrimas fossem água, já não existiria água.
Se os amigos fossem nuvens, nunca choveria.
Se nós fossemos grandes, o mar era pequenino.
Se a lua fosse o tubarão das estrelas, eu viveria nela.
Se eu fosse bonita, o mundo era feio.
Se a parvoíce fosse o sol, estávamos todos esturricados.
Se o tempo fosse amor, estávamos aqui eternidades.
Se a amizade fossem folhas, cresceriam, uma a uma, muito devagarinho.
Se o horizonte fosse uma ponte, as pontes eram lindas.
Se o som fosse o silêncio, eu não estaria aqui.
Se eu não gostasse mesmo de ti, não seria aquilo que sou hoje.
Se eu te compreendesse, fazia uma festa.
Se o cacto não picasse, os picos eram todos teus.
Se não saem mais palavras é porque não há mais nada a dizer.